quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A Tecnologia Digital ajuda a vencer as barreiras do Autismo

Roberta Corrêa e Priscilla Dib
Artigo publicado no Guia da Internet.br em março de 1998
 
 
Dentro do conceito de autismo que é passado para os alunos nos cinco anos necessários até se concluir uma graduação em Psicologia , está a noção de que se trata de um distúrbio no desenvolvimento da criança , um problema que provoca   limitações na área social , apresentando contudo maior capacidade para a execução de tarefas específicas em relação às  pessoas não- autistas . Ou seja, o indivíduo  que sofre de autismo tem dificuldades em interagir com o meio externo. E quando o faz, é através de comportamentos absolutamente estereotipados e repetitivos. A rotina é uma coisa importante na vida do autista . E como exemplo, a professora sempre citava o filme Rain Man , onde  Tom Cruise recebia de herança um irmão autista que decorava a lista telefônica , maravilhosamente interpretado por  Dustin Hoffman .
Mas os tempos mudaram e se alguém acha que não há ligação entre coisas aparentemente tão distantes como computador e autismo , está enganado. Investigando na Internet , chega-se a surpreendentes informações sobre como o mundo binário da computação pode ser um lugar de destaque para autistas , espaço mágico   onde eles se superam e se expressam. Impressionado ? Procurando mais um pouquinho , descobrimomos   que , só no Brasil , existem quase 200.000 autistas de acordo com a ASA - Autism Society of America. Isso quer dizer que há uma população inteira de pessoas possuidoras de habilidades tão específicas quanto geniais para determinado tipo de tarefa , a exemplo de nosso amigo Rain Man.

VIZUALIZAÇÃO VIVIDA
A idéia é poder dizer que esta nova tecnologia está sendo usada para lidar e tratar de antigos problemas . "Autismo envolve um estilhaçamento nas capacidades", diz Joel Smith , diretor executivo da Associação de Serviços ao Autista , em Wellesley , Mass . "No retardamento mental ," continua ele , "o desenvolvimento é de um nível baixo como um todo . Mas em autismo , você tem algumas áreas com níveis muito , muito alto e outras de baixo" . E é nessas áreas de nível elevado em que eles resolvem problemas matemáticos , quebra-cabeças e realizam tarefas complicadas e aparentemente sem soluçã.
Um belo dia , foi descoberto  que os autistas apresentam enorme afinidade para atividades concretas . Aliás , quanto mais concreto e repetitivo for o trabalho , tanto melhor ! É aí , exatamente nesse ponto ,  que entra o computador . Essa fabulosa ferramenta  tecnológica se mostra extremamente amigável  aos olhos dos autistas , pelo fato de apresentar uma lógica rígida . A resolução de um problema em determinado programa de computador aparece quase sempre igual , como numa equação matemática . Alguns autistas chegam , inclusive , a se definir como computadores que simulam o ser humano, decodificando o mundo externo como a máquina o faria. Aí fica fácil , porque se trata de um instrumento tranqüilamente adaptável à forma que essas pessoas tão especiais têm de ver e compreender o mundo .
Por contarem com um pensamento estritamente visual (visualização vívida) , um alto poder de concentração e uma ótima memória , os autistas podem fazer do computador seu ganha-pão , e se utilizam da Internet para travar relações com o que lhes é mais apavorante : o mundo externo . O trabalho no computador se caracteriza por ser essencialmente solitário , daí a afinidade . Além disso , pela dificuldade em manter contato interpessoal , muitos autistas estabelecem relações sociais via e-mail .
Temple Grandin , que também é autista , descreve sua memória como sendo em forma de imagens e diz poder visualizá-las como se estivesse em uma página da Web . O pensamento dessas pessoas incrivelmente capazes é puramente visual , tal qual uma tela do Windows ou uma página da Internet . Qualquer informação  muito gráfica , ou seja , que contenha muitas imagens , é rapidamente armazenada por eles . E nas palavras de Grandin , "eu não posso imaginar um envelope  marrom se nunca tiver visto um antes".
Quando o computador passa a fazer parte do universo interno e inacessível do autista , ele se torna um poderoso instrumento de trabalho . Sara R. S. Miller é programadora de computador com habilidade para detectar qualquer problema no código binário , desde que já tenha visto aquele programa pelo menos uma vez na vida . Ela tem 42 anos, é presidente da Nova Systems em Milwaukee e é autista . Sara diz que sua visão do mundo é uma interpretação preta-e-branca da realidade,assim como no computador , que só existe o on e o off , sem o  meio termo .
Autistas com as mesmas potencialidades de Sara muitas vezes ficam de fora do mercado de trabalho de informática devido ao desconhecimento das pessoas quanto a esta habilidade , além da própria dificuldade dos portadores de Autismo em interagir socialmente . Eles dizem que o computador e a Internet podem proporcionar e facilitar uma melhor participação deles no mercado de trabalho , na construção de senso de valores e bem-viver .
Assim se torna  fácil compreender a afirmação de Martijin Dekker , autista de 23 anos , que se diz obcecado por computador desde os 11 anos de idade . Através da máquina , ele utiliza capacidades que poderiam ser esquecidas , se não fosse a tecnologia . Tecnologia essa que , quando associada à Internet , rompe as barreiras do corpo-humano , aproxima aqueles que distanciam  geográfica e fisicamente , traz à tona o intelecto . Dekker controla um grupo de apoio aos autistas na Internet . "Grupos como o meu parecem concordar com o mito de que autistas não querem contato humano , mas , ao contrário , os grupos e a Internet nos mostram que somos capazes de formar contatos muito profundos e significativos" , diz ele .
No sentido de re-inserir essas pessoas ao convívio social e ao mercado de trabalho , o computador é um instrumento poderoso . Graças a ele e à Internet , os autistas tem uma nova possibilidade de mudar seu destino de abandono e não-aproveitamento de suas capacidades especiais .  

Fonte:  http://www.autismo-br.com.br/home/Psicolog.htm

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